terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

INDÚSTRIA NAVAL CORRE RISCO DE CRIAR MENOS EMPREGOS


Estaleiros Chineses entram na concorrência com os de RG.
Da ZH.COM

A estratégia da Petrobras de transferir à China parte das obras de pelo menos quatro plataformas de petróleo, em razão de atrasos nos estaleiros de Rio Grande e de Inhaúma (RJ), reforça a possibilidade de mudanças nas regras de conteúdo nacional – criando incertezas quanto à manutenção e criação de novos empregos no setor naval brasileiro. Embora o governo afirme que irá manter os percentuais atuais, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) abriu consulta pública para discutir o tema a partir de março. Preocupada em acelerar a produção de petróleo e temendo atrasos na entrega de equipamentos, a Petrobras reconhece que houve mudança de estratégia por causa da falta de disponibilidade nos dois estaleiros. Porém, afirma que a transferência não irá implicar descumprimento das regras de conteúdo local de até 70%. Conforme a petroleira, os serviços a serem realizados na China representam menos de 3% do valor total dos contratos, não cogitando alterar os percentuais mínimos de fabricação no país.

Enquanto isso, a ANP abriu consulta pública para receber sugestões visando a alterar a redação da Resolução 36/2007, que estabelece as regras de conteúdo local. A audiência está marcada para 5 de março, no escritório da agência, no Rio de Janeiro.  – Se o objetivo de criar empresas competitivas não está sendo atingido, é preciso rever as regras de conteúdo. A Petrobras não pode ser penalizada pela falta de eficiência, até porque já está com problemas de caixa – afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

A discussão em torno da eventual mudança dos critérios preocupa a indústria nacional. O temor é de que os investimentos milionários em mão de obra no setor naval se percam em médio prazo – à medida que os estaleiros brasileiros forem concluindo suas obras.  – Agora talvez não haja nenhum reflexo. Mas em dois ou três anos poderão haver demissões no setor – avalia o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Cláudio Makarovsky. Além da redução de empregos, a transferência da produção poderá beneficiar fornecedores chineses, que estarão próximos das obras. Para o vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, Fernando Siqueira, a decisão da estatal não pode levar o país a perder a oportunidade de estimular o desenvolvimento tecnológico nacional.
– Temos capacidade de acelerar o processo aqui dentro. O governo tem o dever de gerar empregos e tecnologia no país, dando incentivos diferenciados a empresas de capital nacional, sem participação estrangeira – aponta Siqueira.

Engevix diz que mantém investimentos no Estado
A confirmação da utilização do estaleiro Cosco, na China, para construir parte do casco da plataforma P-67, não mudará os investimentos na indústria naval gaúcha, afirmam a Ecovix, braço da Engevix para construções oceânicas, e a Petrobras. As duas empresas garantiram que continuarão apostando no Estado e apontam para um "crescimento na curva de contratações" para os próximos meses. Em nota, a Engevix confirmou a continuação dos investimentos e anunciou a "finalização da instalação do maior guindaste tipo pórtico no mundo" para março. O texto informa ainda que a Cosco já é subcontratada para esse trabalho desde o início e sempre foi considerada como opção para finalizar o serviço.  Não foi confirmado o tamanho do atraso na execução dos oito cascos replicantes feitos no dique seco do Estaleiro Rio Grande. Mas a própria Ecovix diz ser "natural considerar alternativas para o planejamento das obras e trabalhar com diferentes parceiros".  A estatal adota a mesma linha. Em nota, afirma que "vem investindo fortemente nas obras de construção do ERG (Estaleiro Rio Grande)" e "o índice de conteúdo local contratado é imutável e a Petrobras não cogita alterá-lo".  A rigor, a própria utilização do estaleiro já começou atrasada. A construção do casco da P-55, realizada em Pernambuco, no Estaleiro Atlântico Sul (EAS), demorou um ano a mais do que o previsto para ficar pronto. Quando chegou, passou a ocupar justamente o mesmo espaço onde os cascos deveriam ser construídos. Entre os entraves, a mão de obra é um dos mais preocupantes. Empresas do polo naval de Rio Grande apelam para anúncios na imprensa e importação de funcionários. E não são apenas para as funções mais pesadas da obra, como pedreiros, soldadores simples, montadores de andaime. Faltam também engenheiros e técnicos.

Prós e contras
Desde 1999, no governo Fernando Henrique, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) exige que parte dos equipamentos usados na exploração e na produção de petróleo seja fabricada no Brasil, regra conhecida como "conteúdo nacional". No governo Lula, foi aumentada a exigência, que hoje varia de 10% a 80%, conforme o equipamento. Para plataformas, o mínimo exigido é de 65%. No início deste ano, a Petrobras transferiu para o Exterior parte das obras de, pelo menos, quatro plataformas de exploração do pré-sal. A decisão teria sido motivada pelo atraso na construção dos cascos nos estaleiros de Inhaúma (RJ) e Rio Grande, no sul do Estado. Uma parte do processo (troca de chapa), intensiva em mão de obra, será transferida para o estaleiro de Cosco, em Dalian, na China. Será feita na China uma parcela da conversão de três navios em plataformas (P-75, P-76 e P-77) e de estruturas do casco de uma plataforma replicante (P-67), prevista para Rio Grande. Embora a Petrobras afirme que a estratégia não implica descumprimento de regras de conteúdo local, a ANP abriu em janeiro consulta pública para discutir novos critérios. Assim como existem analistas que criticam o excesso de conteúdo nacional, que atrasa e encarece os projetos, fabricantes brasileiros defendem o fortalecimento da indústria naval e a geração de vagas no país.

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